CARACTERÍSTICAS DO BOM GESTOR


| Arquivado em: WlaSan.

Profa. Maura Bolfer

Nos dias atuais a ênfase do trabalho escolar está ancorada nos processos de ensino-aprendizagem, finalidade maior de todo o esforço a ser despendido. Essa ideia representa um novo olhar para a escola e, consequentemente, uma nova postura diante dos atores escolares e do que deve ser realizado, pois subordina o caráter administrativo ao pedagógico. Isso se dá porque a aprendizagem dos alunos é a principal razão de ser da escola.


imagem: www.flickr.com

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) trata a escola e o aluno com uma ênfase que não havia sido ainda dada pelas leis que a antecederam. Ao fixar diretrizes para organizar a educação nacional, sua principal característica é a flexibilidade. Essa característica indica regras comuns a serem observadas em todos os sistemas de ensino bem como as diversas possibilidades de organização da escola e do trabalho escolar. Desse modo tende a atender as diferenças regionais e locais.
Os sistemas educacionais, como um todo, e as escolas, como unidades sociais especiais, são organismos vivos e dinâmicos. Ao serem vistas como organizações vivas, caracterizadas por uma rede de relações entre todos os elementos que nelas atuam ou interferem, a sua administração demanda um novo enfoque de organização e é a esta necessidade que a gestão escolar procura responder. Ela abrange, portanto, a dinâmica das interações, em decorrência do que o trabalho, como prática social, passa a ser o enfoque orientador da ação de gestão realizada na escola.
A lei atribui ao estabelecimento – vale dizer ao profissional ou aos profissionais que o gerenciam – uma autonomia inédita no quadro institucional da educação brasileira. Essa autonomia, cuja expressão operativa é o direito de formular e executar um projeto pedagógico próprio, não poderá ser alcançada sem uma gestão escolar sintonizada com as demandas sociais, capaz de liderar o exercício coletivo que será a negociação sobre os objetivos, meios e indicadores de resultado que cada escola identificará para cumprir sua missão, nos termos da lei. A tarefa técnica que será trabalhar conteúdos curriculares de modo a garantir aprendizagem para todos, que são distintos e diversos, exigirá o aporte dos conhecimentos e da liderança pedagógicos que se espera do especialista.
Nesse contexto, um diretor de escola é um gestor da dinâmica social, um mobilizador e orquestrador de atores, um articulador da diversidade capaz de gerar unidade e consistência, na construção do ambiente educacional e na formação de seus alunos. Para tanto, em seu trabalho, presta atenção a cada evento, circunstância e ato, como parte de um conjunto de eventos, circunstâncias e atos, considerando-os globalmente, de modo interativo e dinâmico.


Os processos de construção das aptidões cognitivas e atitudinais necessárias ao gestor escolar alicerça-se em três pilares: o conhecimento, a comunicação e a historicidade. O conhecimento é o objeto específico do trabalho escolar. Portanto, a compreensão profunda do processo de (re)construção do conhecimento no ato pedagógico é um determinante da formação do gestor escolar. O segundo eixo de sua formação é a competência de interlocução. A competência linguística e comunicativa é indispensável no processo de coordenação da elaboração, execução e avaliação do projeto político-pedagógico. É fundamental a competência para a obtenção e sistematização de contribuições, para que, no processo educativo escolar, a participação seja efetiva pela inclusão das contribuições dos envolvidos, inclusive, em documentos (re)escritos. O terceiro eixo é sua inscrição histórica. A escola trabalha o conhecimento em contextos históricos específicos e determinados. O reconhecimento das demandas educacionais, como também das limitações, das possibilidades e das tendências deste contexto histórico, no qual se produz e se trabalha o conhecimento, é fundamental para o seu impacto e o sentido da prática educativa e para sua qualidade.
Esse cenário não tem apenas impacto pedagógico, mas afeta a gestão da escola e todas as demais funções de apoio ao trabalho pedagógico e à docência. Do especialista se exigirá que seja informado do que se passa em seu contexto imediato e longínquo, que estimule a abertura da escola e do currículo para os demais espaços de acesso ao conhecimento, que lidere a equipe no mar de incertezas que o novo paradigma de conhecimento está agitando para todos os educadores.
Gerenciar, coordenar, orientar na escola básica exigem outras competências e habilidades dos profissionais. Além da participação e da gestão democrática – conquistas que sempre deverão ser zeladas e consolidadas – a escola agora terá que transformar a gestão do currículo em gestão de conteúdos aos quais novos significados estão continuamente sendo associados, conhecimentos em revisão permanente, que se ampliam e se expandem até as fronteiras de outras áreas e agregam-se a valores que mudam dependendo do contexto.  
Desempenham papel decisivo os dirigentes, os gestores escolares e os especialistas de apoio à docência, para a efetiva execução das políticas. Eles têm a complexa tarefa de assistir institucional e tecnicamente a transposição, para o ambiente educativo específico de cada escola, das normas estabelecidas e dos recursos técnicos e financeiros disponibilizados pelas políticas.
Essa transposição requer acompanhar o desenvolvimento do setor educacional do ponto de vista macro, manter-se atualizado e informado quanto aos programas, materiais e outros recursos disponíveis, avaliar a oportunidade de seu uso no tempo e no espaço da escola, buscar sinergia entre eles, evitar duplicações, em resumo, gerenciar estrategicamente a implementação das políticas no chão da escola. Tais tarefas que não podem ser executadas pelos professores que têm sob sua responsabilidade a gestão cotidiana da sala de aula e da aprendizagem.  

Um gestor escolar tem, precisa considerar em sua qualificação, o conhecimento do contexto histórico-institucional no qual e para o qual atua. Dessa forma, a gestão da escola é um lugar de permanente qualificação humana, de desenvolvimento pessoal e profissional.


Diante desse quadro algumas exigências podem ser elencadas no que diz respeito à qualificação dos gestores:
a) Formação básica sólida em educação, compreendendo o domínio das ciências que lhe dão fundamentação.
b) Qualificação científica e técnica em gestão de instituições.
c) Formação continuada, visando associar conhecimentos e experiências, e aprimorar o desempenho pessoal e institucional.
São orientadores desse processo de qualificação as concepções de educação que visam à formação para a autonomia das pessoas e das instituições; a visão de futuro e de empreendedor; a formação para a gestão centrada na liderança e nos processos de coordenação de instituições educacionais.

No que se refere ao gestor escolar, vejamos algumas características fundamentais:
·   Liderar e contextualizar a construção da identidade da escola;
·   Garantir o trabalho coletivo liderando a colaboração dos saberes criando a inteligência coletiva, provocando a sinergia e colocando em sintonia a proposta pedagógica da escola;
·   Coordenar, mediar a construção, execução e avaliação da proposta pedagógica, em sintonia com o contexto sócio-político;
·   Incorporar a diversidade no ambiente escolar com alunos e equipe garantindo, assim, melhores condições para o ensino de boa qualidade para todos e uma gestão mais democrática e participativa;
·   Qualificar e parametrizar a autonomia. Estabelecer espaços para o exercício da autonomia estimulando a iniciativa e a criatividade, considerando as leis e as políticas educacionais;
·   Liderar o processo de construção da identidade da escola considerando a política educacional, a realidade dos alunos e do entorno da escola;
·   Liderar a elaboração da proposta pedagógica e o plano de desenvolvimento da escola;
·   Assessorar o processo de construção de indicadores de avaliação de aprendizagem;
·   Supervisionar a execução da proposta pedagógica;
·   Responder pela execução do plano de desenvolvimento da escola, inclusive aspectos de infra-estrutura e financeiros;
·   Implementar estilo de gestão aberto à diversidade de alunos e de membros da equipe escolar;
·   Identificar problemas e buscar soluções dos mesmos;
·   Promover a iniciativa e a autonomia de sua equipe;
·   Contribuir para a construção da identidade da escola, oferecendo subsídios das ciências que fundamentam a educação;
·   Coordenar diferentes saberes promovendo a articulação entre as áreas do conhecimento do currículo;
·   Gerenciar o processo de construção e partilha dos diferentes conhecimentos e saberes da equipe;
·   Gerenciar a preparação e a execução da proposta pedagógica e do plano curricular;
·   Incentivar, apoiar e monitorar a reflexão sobre a sala de aula, a prática didática e a avaliação do ensino e da aprendizagem;
·   Zelar pela autonomia pedagógica e didática de sua equipe;
· Contribuir para a construção da identidade da escola oferecendo subsídios quanto aspectos de aprendizagem e orientação para o trabalho;
·   Colaborar no processo de construção e partilhamento do conhecimento na equipe;
·   Colaborar, com o coordenador pedagógico, no planejamento e execução da proposta pedagógica e do plano curricular;
·   Colaborar na elaboração e implementação de programas e ações educativas  para alunos com deficiência;

·   Elaborar programas e ações de orientação e formação profissional.


FORMAÇÃO REFLEXIVA DE PROFESSORES: IDÉIAS E PRÁTICAS

| Arquivado em: WlaSan.

Profa. Maura Bolfer

Zeichner (1993) me fez pensar muito sobre meu fazer pedagógico, meu fazer enquanto coordenadora e professora de curso de formação de professores. Me fez olhar para mim mesma, para meu cotidiano que vislumbra, via profissionalização do professor, uma sociedade mais justa. Como fazer para que isso não seja apenas um slogan, mas de fato uma prática significativa para mim e para minhas alunas? Em que medida aceito as coisas que estão na moda, ou impostas pela legislação, sem ter a certeza de que esse é o melhor caminho?

imagem: Shutterstock
Percebo, à luz das ideias de Dewey, que em minha prática docente me aproximo muito mais de uma “ação reflexiva” do que de uma “ação rotineira”, porque acredito que reflexão “implica intuição, emoção e paixão” (ZEICHNER, 1993, p. 18) aliada aos conhecimentos técnicos/acadêmicos e à busca de soluções lógicas e racionais. Por conta disso, fico buscando a abertura de espírito, a responsabilidade e a sinceridade para que essa ação se concretize na sala de aula, espaço de atividade e de conflito.

Ao pensar nisso é preciso ressaltar concepções arraigadas ao “bom ensino” que precisa levar em conta “a representação das disciplinas, o pensamento e compreensão dos alunos, as estratégias de ensino sugeridas pela investigação e as conseqüências sociais e os contextos de ensino” (ZEICHNER, 1993: 25). É isso, de certa forma, que dará cor ao trabalho e à prática reflexiva.

Proposições Possíveis na Formação de Professores
Algumas idéias apresentadas por Zeichner (1993) apontam uma saída factível e que contribuem positivamente na formação de professores: ver os professores enquanto produtores de saber: estudo de situações vividas em sala de aula e inclusão de relatos/trabalhos de professores para leitura e reflexão;

• Utilizar-se de instrumentos que facilitem o encaminhamento para a reflexão do professor;
• Conscientizar e valorizar os compromissos educacionais e políticos do professor;
• Incluir os conceitos de ensino reflexivo a partir das  cinco dimensões, apontadas por Calderhead: o processo de reflexão, o conteúdo da reflexão, as condições prévias à reflexão, o produto da reflexão e a forma como os conceitos são justificados;
• Considerar “a reflexão como instrumento de mediação da acção, na qual se usa o conhecimento para orientar a prática; a reflexão como modo de optar entre visões do ensino em conflito, na qual se usa o conhecimento na informação da prática e a reflexão como uma experiência de reconstrução, na qual se usa o conhecimento como forma de auxiliar os professores a apreender e a transformar a prática” (ZEICHNER, 1993, p. 32).

As tradições de prática reflexiva nos programas de formação de professores. O estudo dessas tradições (acadêmica, de eficiência social, desenvolvimentista e de reconstrução social) nos faz entender como tem se processado as propostas e a formação de professores nos últimos anos e, a partir delas, como podemos olhar para a ação docente.

A “tradição acadêmica” nos mostra uma ênfase nas disciplinas acadêmicas tradicionais, quase sempre desconectadas do fazer docente, partindo do princípio de que aquele que detém o conhecimento é capaz de ter uma ação docente eficaz.

A “tradição de eficiência social” nos mostra o “poder do estudo científico do ensino para o estabelecimento da base da construção curricular da formação de professores” (ZEICHNER, 1993, p. 39), valorizando a base nas competências/desempenhos. Aponta uma certa previsibilidade da ação docente a partir de prévia definição de saberes e capacidades a serem dominados pelos futuros professores.

A “tradição desenvolvimentista” nos aponta como caminho uma formação centrada no aluno, uma formação humanista. Essa formação leva à formação do professor, enquanto naturalista, artista e investigador. Enquanto naturalista, a partir daquilo que observa em seus alunos é que constrói o currículo e propõe um ambiente de aprendizagem favorável à aprendizagem. Enquanto artista, faz uso de conhecimentos da psicologia do desenvolvimento para pensar em estratégias de ensino e aprendizagem que revelem a criatividade, o questionamento e a abertura de pensamento. Enquanto investigador apresenta atitude experimental em relação à sua prática.

A “tradição de reconstrução social” encontra forças na possibilidade de construção de uma sociedade mais justa e humana. Valoriza-se o pensamento crítico enquanto possibilidade de pensar a ordem social, as implicações sociais e políticas da ação docente na comunidade na qual está inserida.
É possível dizer que nos programas de formação docente, quer seja na licenciatura em Pedagogia ou nos cursos de formação continuada da WlaSan pautamo-nos nas tradições desenvolvimentista e de reconstrução social.

Referência Bibliográfica
ZEICHNER, Kenneth M. O professor como prático reflexivo e Concepções de prática reflexiva no ensino e na formação de professores. In: ZEICHNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores: ideias e práticas. Lisboa: Educa, 1993

Entre ir e vir, o ato de ler


| Arquivado em: WlaSan.

Profa. Maura Bolfer

A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente vai pra nunca mais
Tem gente que vai e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
São dois lados
Da mesma viagem
(Milton Nascimento e Fernando Brant)
imagem: Acervo
Leitura: o que é?
Se nos determos à ilustração, podemos inferir que leitura é o ato de aquisição de saberes. Até porque o contexto onde se lê, uma biblioteca, carrega consigo a representação do lugar dos saberes. O uniforme das alunas, a aparência de concentração e, de certa forma o olhar interessado os livros, nos levam à imagem de leitura vinculada à informação, à formação.

Porém, podemos ir além da imagem. Podemos dizer que leitura talvez seja uma “atividade de aquisição de saberes”, “percepção das relações entre texto e contexto”, “ato de decifrar”, “atribuição de sentidos”, “instrumento de aprendizagem”, “ação intelectiva e cultural, posicionamento político diante do mundo” ou, ainda, “uma operação de caça”. É tudo isso e algo mais.

Como se lê?
Uns, “com os olhos”, outros “com a cabeça”, outros “com o que traz no ventre”, outros “com o corpo”.

Quais as formas de leitura?
Há diversas possibilidades. Pode ser “dinâmica”, “comprovada”, “declarada”, “automática”, “rápida”, “oral”, ou “silenciosa”...

Estabelecendo Relações
É possível aproximar “Encontros e Despedidas”, de Milton Nascimento e Fernando Brant do assunto leitura. Assim como há dois lados da “mesma viagem”, na leitura também há a interação de dois contextos: do texto e do leitor. O texto também traz dois lados: o real e o invisível. O real, presente na materialidade, torna-se visível, inteligível. O invisível, contido na subjetividade do texto, apresenta o interdito no visível.

Nessa interação, texto/leitor, é preciso considerar o suporte do texto e o repertório do leitor. O suporte, de certa forma, anuncia consigo o que está/será dito, carrega consigo informações e formações. O leitor, carrega consigo o contexto, os fatores emocionais/fisiológicos, o repertório e a intenção, que possibilitam a compreensão/interpretação.

É por conta dessa interação, das relações aí estabelecidas que a leitura pode ser múltipla, e não única, sendo construção de sentidos e redescoberta de significados. Isso é possível porque quando se lê, parafraseando Paulo Freire, o que é vivido, o que se tem como repertório, interfere na produção de sentidos, ou seja, a leitura de mundo precede a leitura da palavra.

É nesse movimento que as propostas de leitura, trabalhadas nas diversas disciplinas do curso de Pedagogia da WlaSan, pretendem desenvolver nas futuras professoras: a leitura de mundo.

MUSEU: ANTES E DEPOIS DE MARLENE OSOWSKI.


| Arquivado em: WlaSan.

Profa. Maura Bolfer

Três são os motivos me levaram a escrever este texto. O primeiro foi o desejo de organizar minhas ideias sobre a teoria da Representação Social e saber até que ponto evolui neste conceito. O segundo foi procurar, na prática cotidiana, um momento em que pudesse experimentar as noções apresentadas pela teoria da Representação Social e observar as noções apresentadas pelo senso comum agindo na formação de conceitos. O terceiro foi o registro dessa prática cotidiana.

imagem: Shutterstock
A partir do contato com o professor Marcos Reigota fui percebendo a importância do registro, isto é, da importância de registrar minha prática e também minhas vivências, além da forte presença das representações sociais no dia a dia. Quando era professora de 4a série (atual 5º ano) do Ensino Fundamental e também de várias disciplinas do curso Normal Médio fui sentindo, cada vez mais, a necessidade de encontrar nos conhecimentos prévios de minhas alunas as representações que elas tinham de alguns conceitos. Durante este processo passei a perceber o quanto estas representações eram significativas para o processo de aprendizagem delas. 

Esta visão veio a partir de Moscovici que disse que “as representações individuais ou sociais fazem com que o mundo seja o que pensamos que ele é ou deve ser” (MOSCOVICI, 1978, p. 59). Este pensar de Moscovici me fez ver o quanto a representação, trazida pelas minhas alunas, e pelas pessoas de uma forma geral, pode interferir nos conceitos ou conhecimentos mais estruturados que irão adquirir, pois estas representações podem trazer consigo alguns “pré-conceitos”. Para evidenciar esta problemática resolvi trabalhar com o texto Museu, um tesouro a ser descoberto..., de Marlene Osowski, contido no livro Verde cotidiano: o meio ambiente em discussão, organizado por Marcos Reigota. 

Antes de iniciar a leitura do texto, perguntei às alunas presentes em uma das aulas: “Para você, o que é museu?” Algumas das respostas que obtive foram: Museu pra mim sempre foi algo relacionado com coisa velha, antiga, sem valor algum, um lugar onde não adquire-se conhecimento. Museu é um lugar interessante e ao mesmo tempo chato. Museu, na minha opinião, é lugar onde encontramos coisas antigas, histórias, peças, objetos antigos. Posso dizer que o museu, para a grande maioria das pessoas é um local onde podem ser encontrados objetos que fizeram parte do nosso passado. 

• Lugar pouco freqüentado por alunos e jovens. 
• Lugar de obras de artes. 
• Lugar para se conhecer o passado, saber como viviam os povos, seus costumes, suas tradições, suas crenças. Local para se ir e encontrar informações e também se divertir. 
• Lugar de coisas antigas. 
• Lugar de passeio, de visitas aos domingos, um lugar onde o passado se faz presente.
• Lugar de registro da história.
imagem: Shutterstock
Algo intelectualizado, somente para adultos, uma realidade muito distante da escola. Depois de alguns estudos realizados, percebi que essas representações podiam ser alteradas, modificadas e transformadas pois são opiniões fundamentadas na vivência do cotidiano, isto é, no senso comum. É este senso comum que acaba produzindo uma determinada visão de mundo, integrando, de modo precário, o conhecimento humano. 

Segundo Moscovici a opinião é “fórmula socialmente valorizada a que um indivíduo adere [...] e uma tomada de posição sobre um problema controvertido da sociedade. (...) Revela ser um momento da formação de atitudes e estereótipos (1978, p. 46). Essas opiniões, vindas do senso comum podem ser desconstruídas e construídas com base em outros referenciais. Partindo deste pressuposto, propus uma leitura comentada do texto de Marlene, já que nosso assunto, naquele momento, era sobre metodologias de ensino e aprendizagem. 

Com a leitura novas palavras foram sendo incorporadas ao nosso vocabulário. Digo nosso porque tanto eu como as alunas estávamos envolvidas nesta atividade. Algumas visões se modificaram. A primeira foi o museu sendo apresentado como uma ferramenta. Ferramenta sim, pois através dele elabora-se um conhecimento. 

• Um lugar de possibilidades, e possibilidades educativas pois, inspira questionamentos, pesquisas, inquietações. 
• Um lugar de referência da memória, pois dá margem à reflexão sociocultural de uma espécie. 
• Um lugar que traz em si a Educação Ambiental, pois retrata frutos de uma época, de uma cultura. 
• É um lugar de incentivo / motivação pois, pode transformar as informações em conhecimentos. 
• Lugar que abre espaço para o desenvolvimento de um trabalho dinâmico, interdisciplinar, comprometido com a formação de cidadãos ativos. 

Uma visão que de certa forma reúne todas essas é a que diz “as escolas e os museus são instituições promotoras ou facilitadoras do diálogo entre as gerações e culturas em busca de uma sociedade mais justa (OSOWSKI, 1999, p. 89). Após esta reflexão, propus que cada aluna escrevesse um texto sobre essa nossa conversa. 

Vejamos os textos na íntegra. 

Texto 1: Depois de lermos o texto sobre museu mudei minha visão. Antes, quando alguém falava em museu, eu imaginava um lugar com objetos antigos. A partir deste texto vi que museu é muito mais. Museu é um lugar para se aprender e não só passear. Temos oportunidade de crescer indo a um museu, seja ele de ciências, artes, história, etc. É um tesouro a ser descoberto para desvendar o passado, o presente e o futuro. (W.) 

Texto 2: A consciência de que a educação precisava tomar um novo rumo eu já tinha, mas que um museu possibilitaria tantas mudanças não tinha idéia. Imagino várias alternativas para juntar prática e teoria, mas como um museu se encaixaria nessa prática, sinceramente, era difícil. Agora, minhas alternativas se ampliaram e muito: o mundo pode fazer parte da minha prática com uma visita a um museu. As possibilidades são fantásticas e com certeza é mais um meio de promover a construção do conhecimento. (S.) 

Texto 3: Sempre achei importante que um povo tivesse registrada a sua história, os seus costumes. Que pudesse também a partir daí, poder entender melhor a sucessão de fatos que ocorrem em determinadas épocas. Mas após o texto pude  ver que a existência de um museu vai muito mais além, há museus de atualidades, abrangendo diversas áreas. 

Com certeza é uma ferramenta grandiosa para ser trabalhada com os alunos, principalmente se conseguirmos trabalhar de maneira criativa e agradável. É muito importante que seja ressaltada a idéia de estudarmos nossa cultura dentro de um museu. Hoje fica mais fácil entender sua importância e termos por isso que conscientizarmos a comunidade como um todo para que isso possa ser trabalhado em conjunto. (Si.) 

Texto 4: O museu sempre foi visto, por mim, como um lugar de passeio, visitas aos domingos, um lugar onde o passado se fazia presente. Agora, então, com uma nova visão de museu, como instrumento para a construção do conhecimento, fica ainda mais interessante. É a teoria aliada à prática construindo o saber. O passado podendo ser trabalhado no presente para a construção de um futuro melhor. O museu passou a ser uma ferramenta criativa que deve ser utilizada. (F.) 

Texto 5: Na minha visão, pouca coisa mudou, pois sempre vi o museu como um local para se ir e encontrar informações e também se divertir. Aprendi desde cedo a valorizá-lo e a tê-lo como referência e apoio para estudos. È um bom meio de trabalho para auxiliar nas pesquisas escolares, permitindo nos questionarmos sobre o que foi o passado, de que modo nos influenciou e como pode influenciar no futuro. O repensar o modo de vida passado e presente e o que podemos melhorar no futuro para uma melhor qualidade de vida. ( C.) 

Texto 6: Na realidade eu pensava em museu apenas como sendo um lugar para se conhecer o passado, saber como viviam os povos, seus costumes, suas tradições, suas crenças. Nunca parei para analisar como fazemos parte desse “museu da vida” em que o ontem nos ensina algo para o hoje e que teremos base para o amanhã. É muito complexo. Não podemos deixar de falar também naquilo que nos traz à realidade do mundo moderno sem antes analisar como chegamos neste estágio de modernidade. 

Precisava em algum dia, em algum lugar repensar esta nossa significância e este foi o momento, o lugar. Como foi explicativo, como foi esclarecedor e acima de tudo, emocionante ver que o museu também é uma escola e, que se fazemos parte dessa história que acontece hoje e que amanhã será o ontem, então “hoje” posso dizer que o museu faz parte da humanidade como um todo, seja ele histórico, cultural, zoológico, antropológico, arqueológico, ógico... ógico... ógico... ( N.) 

Texto 7: A imagem que eu tinha antes sobre museu era a de uma coisa monstruosa, macabra, onde não me interessavam as obras e as artes que lá encontrava. Com o tempo, essa visão se modificou e o museu passou a ser diferente. As coisas passaram a ter valor e o museu passou a ser um local de educação ajudando no estudo crítico e inovador. A minha visão agora é outra. (P.) 

Texto 8: Posso dizer que museu para boa parte das pessoas é um local onde podem ser encontrados objetos que fizeram parte do nosso passado referente à história. Até porque o museu contém inúmeras informações, dados e material que constituíram dados de épocas que marcaram as transformações sociais de todas as partes do mundo. 

A visão que eu tinha era a de um lugar pouco freqüentado por alunos e jovens. Mas, após a leitura do texto, observei a grande fonte de informação e importância que o museu exerce para o descobrimento cultural e social do homem, sobretudo despertando uma vasta curiosidade na criança. E o mais interessante é que através de uma visita a um museu nós podemos aprender mais pesquisando, conhecendo inúmeras partes da história. Passamos a desvendar o passado sem estarmos presentes na sala de aula e, o bom nisso, é que aprendemos de uma forma descontraída. (Z.) 

Texto 9: Museu na minha opinião era um lugar onde encontrávamos coisas antigas, histórias, peças, objetos antigos. Nos dias de hoje e após a leitura desse texto vejo que museu engloba muito mais do que isso, como a preservação ambiental e a reflexão da nossa realidade. Acho que a maneira que se está propondo o trabalho usando a criatividade e a motivação dos alunos contribui para que seja resgatado o interesse pelo museu, pois este nada mais é do que parte da nossa história de vida. (Pa.) 

Texto 10: Antes de ler este texto sobre museu minha idéia era contrária. Quando eu ia a museu eu achava interessante e chato ver coisas de anos atrás, mas eu não parava para refletir. O meu conceito agora é outro. Museu guarda e revela muitas coisas que aconteceram, que foram e que por elas podemos mudar certas atitudes. Agora, quando eu for a um museu irei parar, ler as informações, pensar sobre as coisas. 

Percebi que é uma forma de incentivar, de ensinar e cultivar a cultura. Devemos desenvolver este conceito nas crianças pois seu eu tivesse essa noção quando criança minha curiosidade seria bem mais forte. (F.) 

Texto 11: Museu para mim sempre foi algo relacionado com coisa velha, antiga, sem valor algum, um lugar onde não adquire-se conhecimento. Eu não tinha estímulo para visitar qualquer museu, era um desinteresse total. Depois de ler este texto mudou totalmente a minha visão a respeito de museu. Percebi que com o museu nós podemos relacionar o passado com o presente, crescermos e adquirirmos conhecimento. Como o texto diz, é um tesouro a ser descoberto, ele guarda informações importantíssimas. Todos nós, professores ou futuros professores, devemos incentivar para que nossos alunos se interessem pelo museu. (M.) 

Texto 12: Eu já gostava de museu, depois de ler este texto comecei a gostar mais ainda. Quando entramos num museu nos viajamos. Eu pareço estar vivendo na época dos objetos que ali estão expostos, fico me imaginando numa aldeia indígena... É muito bom passar para as crianças esse gosto por buscar o conhecimento nos museus. 

Confesso que quando eu pensava em museu não pensava numa forma assim tão ampla, inserindo nos alunos o prazer de conhecer museus e as pesquisas que nele podem ser feitas. Percebi que na educação devemos utilizar e aproveitar todos os meios que temos para adquirir conhecimento e cultura. (E.) 

Acredito que estes textos retratam uma nova visão construída pelas alunas, onde uma nova representação passou a fazer parte desse grupo. Para mim, foi um trabalho muito significativo pois os fatos foram acontecendo sob meus olhos e a teoria das representações sociais foi sendo reconstruída durante este processo. 


BIBLIOGRAFIA 

MOSCOVICI, Serge; A Representação Social da Pasicanálise; Rio: Editora Zahar,  1978 
REIGOTA, Marcos (org.); Verde Cotidiano: o meio ambiente em discussão; Rio de Janeiro: Editora DP & A, 1999