CARACTERÍSTICAS DO BOM GESTOR


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Profa. Maura Bolfer

Nos dias atuais a ênfase do trabalho escolar está ancorada nos processos de ensino-aprendizagem, finalidade maior de todo o esforço a ser despendido. Essa ideia representa um novo olhar para a escola e, consequentemente, uma nova postura diante dos atores escolares e do que deve ser realizado, pois subordina o caráter administrativo ao pedagógico. Isso se dá porque a aprendizagem dos alunos é a principal razão de ser da escola.


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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) trata a escola e o aluno com uma ênfase que não havia sido ainda dada pelas leis que a antecederam. Ao fixar diretrizes para organizar a educação nacional, sua principal característica é a flexibilidade. Essa característica indica regras comuns a serem observadas em todos os sistemas de ensino bem como as diversas possibilidades de organização da escola e do trabalho escolar. Desse modo tende a atender as diferenças regionais e locais.
Os sistemas educacionais, como um todo, e as escolas, como unidades sociais especiais, são organismos vivos e dinâmicos. Ao serem vistas como organizações vivas, caracterizadas por uma rede de relações entre todos os elementos que nelas atuam ou interferem, a sua administração demanda um novo enfoque de organização e é a esta necessidade que a gestão escolar procura responder. Ela abrange, portanto, a dinâmica das interações, em decorrência do que o trabalho, como prática social, passa a ser o enfoque orientador da ação de gestão realizada na escola.
A lei atribui ao estabelecimento – vale dizer ao profissional ou aos profissionais que o gerenciam – uma autonomia inédita no quadro institucional da educação brasileira. Essa autonomia, cuja expressão operativa é o direito de formular e executar um projeto pedagógico próprio, não poderá ser alcançada sem uma gestão escolar sintonizada com as demandas sociais, capaz de liderar o exercício coletivo que será a negociação sobre os objetivos, meios e indicadores de resultado que cada escola identificará para cumprir sua missão, nos termos da lei. A tarefa técnica que será trabalhar conteúdos curriculares de modo a garantir aprendizagem para todos, que são distintos e diversos, exigirá o aporte dos conhecimentos e da liderança pedagógicos que se espera do especialista.
Nesse contexto, um diretor de escola é um gestor da dinâmica social, um mobilizador e orquestrador de atores, um articulador da diversidade capaz de gerar unidade e consistência, na construção do ambiente educacional e na formação de seus alunos. Para tanto, em seu trabalho, presta atenção a cada evento, circunstância e ato, como parte de um conjunto de eventos, circunstâncias e atos, considerando-os globalmente, de modo interativo e dinâmico.


Os processos de construção das aptidões cognitivas e atitudinais necessárias ao gestor escolar alicerça-se em três pilares: o conhecimento, a comunicação e a historicidade. O conhecimento é o objeto específico do trabalho escolar. Portanto, a compreensão profunda do processo de (re)construção do conhecimento no ato pedagógico é um determinante da formação do gestor escolar. O segundo eixo de sua formação é a competência de interlocução. A competência linguística e comunicativa é indispensável no processo de coordenação da elaboração, execução e avaliação do projeto político-pedagógico. É fundamental a competência para a obtenção e sistematização de contribuições, para que, no processo educativo escolar, a participação seja efetiva pela inclusão das contribuições dos envolvidos, inclusive, em documentos (re)escritos. O terceiro eixo é sua inscrição histórica. A escola trabalha o conhecimento em contextos históricos específicos e determinados. O reconhecimento das demandas educacionais, como também das limitações, das possibilidades e das tendências deste contexto histórico, no qual se produz e se trabalha o conhecimento, é fundamental para o seu impacto e o sentido da prática educativa e para sua qualidade.
Esse cenário não tem apenas impacto pedagógico, mas afeta a gestão da escola e todas as demais funções de apoio ao trabalho pedagógico e à docência. Do especialista se exigirá que seja informado do que se passa em seu contexto imediato e longínquo, que estimule a abertura da escola e do currículo para os demais espaços de acesso ao conhecimento, que lidere a equipe no mar de incertezas que o novo paradigma de conhecimento está agitando para todos os educadores.
Gerenciar, coordenar, orientar na escola básica exigem outras competências e habilidades dos profissionais. Além da participação e da gestão democrática – conquistas que sempre deverão ser zeladas e consolidadas – a escola agora terá que transformar a gestão do currículo em gestão de conteúdos aos quais novos significados estão continuamente sendo associados, conhecimentos em revisão permanente, que se ampliam e se expandem até as fronteiras de outras áreas e agregam-se a valores que mudam dependendo do contexto.  
Desempenham papel decisivo os dirigentes, os gestores escolares e os especialistas de apoio à docência, para a efetiva execução das políticas. Eles têm a complexa tarefa de assistir institucional e tecnicamente a transposição, para o ambiente educativo específico de cada escola, das normas estabelecidas e dos recursos técnicos e financeiros disponibilizados pelas políticas.
Essa transposição requer acompanhar o desenvolvimento do setor educacional do ponto de vista macro, manter-se atualizado e informado quanto aos programas, materiais e outros recursos disponíveis, avaliar a oportunidade de seu uso no tempo e no espaço da escola, buscar sinergia entre eles, evitar duplicações, em resumo, gerenciar estrategicamente a implementação das políticas no chão da escola. Tais tarefas que não podem ser executadas pelos professores que têm sob sua responsabilidade a gestão cotidiana da sala de aula e da aprendizagem.  

Um gestor escolar tem, precisa considerar em sua qualificação, o conhecimento do contexto histórico-institucional no qual e para o qual atua. Dessa forma, a gestão da escola é um lugar de permanente qualificação humana, de desenvolvimento pessoal e profissional.


Diante desse quadro algumas exigências podem ser elencadas no que diz respeito à qualificação dos gestores:
a) Formação básica sólida em educação, compreendendo o domínio das ciências que lhe dão fundamentação.
b) Qualificação científica e técnica em gestão de instituições.
c) Formação continuada, visando associar conhecimentos e experiências, e aprimorar o desempenho pessoal e institucional.
São orientadores desse processo de qualificação as concepções de educação que visam à formação para a autonomia das pessoas e das instituições; a visão de futuro e de empreendedor; a formação para a gestão centrada na liderança e nos processos de coordenação de instituições educacionais.

No que se refere ao gestor escolar, vejamos algumas características fundamentais:
·   Liderar e contextualizar a construção da identidade da escola;
·   Garantir o trabalho coletivo liderando a colaboração dos saberes criando a inteligência coletiva, provocando a sinergia e colocando em sintonia a proposta pedagógica da escola;
·   Coordenar, mediar a construção, execução e avaliação da proposta pedagógica, em sintonia com o contexto sócio-político;
·   Incorporar a diversidade no ambiente escolar com alunos e equipe garantindo, assim, melhores condições para o ensino de boa qualidade para todos e uma gestão mais democrática e participativa;
·   Qualificar e parametrizar a autonomia. Estabelecer espaços para o exercício da autonomia estimulando a iniciativa e a criatividade, considerando as leis e as políticas educacionais;
·   Liderar o processo de construção da identidade da escola considerando a política educacional, a realidade dos alunos e do entorno da escola;
·   Liderar a elaboração da proposta pedagógica e o plano de desenvolvimento da escola;
·   Assessorar o processo de construção de indicadores de avaliação de aprendizagem;
·   Supervisionar a execução da proposta pedagógica;
·   Responder pela execução do plano de desenvolvimento da escola, inclusive aspectos de infra-estrutura e financeiros;
·   Implementar estilo de gestão aberto à diversidade de alunos e de membros da equipe escolar;
·   Identificar problemas e buscar soluções dos mesmos;
·   Promover a iniciativa e a autonomia de sua equipe;
·   Contribuir para a construção da identidade da escola, oferecendo subsídios das ciências que fundamentam a educação;
·   Coordenar diferentes saberes promovendo a articulação entre as áreas do conhecimento do currículo;
·   Gerenciar o processo de construção e partilha dos diferentes conhecimentos e saberes da equipe;
·   Gerenciar a preparação e a execução da proposta pedagógica e do plano curricular;
·   Incentivar, apoiar e monitorar a reflexão sobre a sala de aula, a prática didática e a avaliação do ensino e da aprendizagem;
·   Zelar pela autonomia pedagógica e didática de sua equipe;
· Contribuir para a construção da identidade da escola oferecendo subsídios quanto aspectos de aprendizagem e orientação para o trabalho;
·   Colaborar no processo de construção e partilhamento do conhecimento na equipe;
·   Colaborar, com o coordenador pedagógico, no planejamento e execução da proposta pedagógica e do plano curricular;
·   Colaborar na elaboração e implementação de programas e ações educativas  para alunos com deficiência;

·   Elaborar programas e ações de orientação e formação profissional.


FORMAÇÃO REFLEXIVA DE PROFESSORES: IDÉIAS E PRÁTICAS

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Profa. Maura Bolfer

Zeichner (1993) me fez pensar muito sobre meu fazer pedagógico, meu fazer enquanto coordenadora e professora de curso de formação de professores. Me fez olhar para mim mesma, para meu cotidiano que vislumbra, via profissionalização do professor, uma sociedade mais justa. Como fazer para que isso não seja apenas um slogan, mas de fato uma prática significativa para mim e para minhas alunas? Em que medida aceito as coisas que estão na moda, ou impostas pela legislação, sem ter a certeza de que esse é o melhor caminho?

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Percebo, à luz das ideias de Dewey, que em minha prática docente me aproximo muito mais de uma “ação reflexiva” do que de uma “ação rotineira”, porque acredito que reflexão “implica intuição, emoção e paixão” (ZEICHNER, 1993, p. 18) aliada aos conhecimentos técnicos/acadêmicos e à busca de soluções lógicas e racionais. Por conta disso, fico buscando a abertura de espírito, a responsabilidade e a sinceridade para que essa ação se concretize na sala de aula, espaço de atividade e de conflito.

Ao pensar nisso é preciso ressaltar concepções arraigadas ao “bom ensino” que precisa levar em conta “a representação das disciplinas, o pensamento e compreensão dos alunos, as estratégias de ensino sugeridas pela investigação e as conseqüências sociais e os contextos de ensino” (ZEICHNER, 1993: 25). É isso, de certa forma, que dará cor ao trabalho e à prática reflexiva.

Proposições Possíveis na Formação de Professores
Algumas idéias apresentadas por Zeichner (1993) apontam uma saída factível e que contribuem positivamente na formação de professores: ver os professores enquanto produtores de saber: estudo de situações vividas em sala de aula e inclusão de relatos/trabalhos de professores para leitura e reflexão;

• Utilizar-se de instrumentos que facilitem o encaminhamento para a reflexão do professor;
• Conscientizar e valorizar os compromissos educacionais e políticos do professor;
• Incluir os conceitos de ensino reflexivo a partir das  cinco dimensões, apontadas por Calderhead: o processo de reflexão, o conteúdo da reflexão, as condições prévias à reflexão, o produto da reflexão e a forma como os conceitos são justificados;
• Considerar “a reflexão como instrumento de mediação da acção, na qual se usa o conhecimento para orientar a prática; a reflexão como modo de optar entre visões do ensino em conflito, na qual se usa o conhecimento na informação da prática e a reflexão como uma experiência de reconstrução, na qual se usa o conhecimento como forma de auxiliar os professores a apreender e a transformar a prática” (ZEICHNER, 1993, p. 32).

As tradições de prática reflexiva nos programas de formação de professores. O estudo dessas tradições (acadêmica, de eficiência social, desenvolvimentista e de reconstrução social) nos faz entender como tem se processado as propostas e a formação de professores nos últimos anos e, a partir delas, como podemos olhar para a ação docente.

A “tradição acadêmica” nos mostra uma ênfase nas disciplinas acadêmicas tradicionais, quase sempre desconectadas do fazer docente, partindo do princípio de que aquele que detém o conhecimento é capaz de ter uma ação docente eficaz.

A “tradição de eficiência social” nos mostra o “poder do estudo científico do ensino para o estabelecimento da base da construção curricular da formação de professores” (ZEICHNER, 1993, p. 39), valorizando a base nas competências/desempenhos. Aponta uma certa previsibilidade da ação docente a partir de prévia definição de saberes e capacidades a serem dominados pelos futuros professores.

A “tradição desenvolvimentista” nos aponta como caminho uma formação centrada no aluno, uma formação humanista. Essa formação leva à formação do professor, enquanto naturalista, artista e investigador. Enquanto naturalista, a partir daquilo que observa em seus alunos é que constrói o currículo e propõe um ambiente de aprendizagem favorável à aprendizagem. Enquanto artista, faz uso de conhecimentos da psicologia do desenvolvimento para pensar em estratégias de ensino e aprendizagem que revelem a criatividade, o questionamento e a abertura de pensamento. Enquanto investigador apresenta atitude experimental em relação à sua prática.

A “tradição de reconstrução social” encontra forças na possibilidade de construção de uma sociedade mais justa e humana. Valoriza-se o pensamento crítico enquanto possibilidade de pensar a ordem social, as implicações sociais e políticas da ação docente na comunidade na qual está inserida.
É possível dizer que nos programas de formação docente, quer seja na licenciatura em Pedagogia ou nos cursos de formação continuada da WlaSan pautamo-nos nas tradições desenvolvimentista e de reconstrução social.

Referência Bibliográfica
ZEICHNER, Kenneth M. O professor como prático reflexivo e Concepções de prática reflexiva no ensino e na formação de professores. In: ZEICHNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores: ideias e práticas. Lisboa: Educa, 1993