As Metodologias Ativas: a perspectiva da faculdade Wlasan.

6/30/2021 0 Comentarios

 

Autoria: Profª Me Gabriela Aprigia Monteferrante Deliberali 


O "era uma vez" costuma marcar as narrativas que remetem à infância, no entanto, o trecho de Martins (2014) pode suscitar um intenso debate na vida adulta e em especial pelos profissionais da educação. Observe-o.

“Era uma vez uma tribo pré-histórica que se alimentava de carne de tigres de dentes de sabre. A educação nesta tribo baseava-se em ensinar a caçar tigres de dentes de sabre, porque disso dependia a  sobrevivência de todos. Os mais velhos eram os responsáveis pela tarefa educativa. Passado algum tempo os tigres de dentes de sabre extinguiram-se. Criou-se um impasse: o apego à tradição dos mais velhos exigia que se continuasse a ensinar a caçar tigres de dentes de sabre; os mais jovens clamavam por uma reforma no ensino. O impasse perdurou por muito tempo. Mais precisamente até um dia que, por falta de alimento, a tribo extinguiu-se também.” (MARTINS, 2014, p.4)

Assim como a trama que envolve os tigres de dentes de sabre, na prática docente as escolhas pedagógicas e caminhos didáticos costumam dividir opiniões frente às muitas possibilidades. Esta situação surge de uma característica intrínseca à natureza do trabalho pedagógico: a pesquisa. Como afirma Freire (1997) “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino” e as novas pesquisas na área da educação têm direcionado os professores a se lançarem na prática de novas estratégias que atendam com maior abrangência  às demandas do público estudante do século XXI. 

 Imagem disponível em: https://64.media.tumblr.com/d64e6ecc2627eb29b424a3c0aa3f972d/6e1302531da07069-ed/s1280x1920/40e9a6f5f7fe9d41ece0a075e64b87e82949b46e.jpg Acesso em: 20/06/2021


Dentre os termos pedagógicos mais citados atualmente estão as chamadas Metodologias Ativas de Ensino, este que, apesar do contemporâneo sucesso, têm origens em movimentos filosóficos e educativos do final do século XIX com o protagonismo de autores como o francês Célestin Freinet e o norte-americano John Dewey. Para Dewey (2010, p. 73) o “[…] objetivo da educação é habilitar os indivíduos a continuar sua educação – ou que o objeto ou recompensa da aprendizagem é a capacidade de desenvolvimento constante”, essa fala poderia ter sido dita por um pesquisador em 2021, não é mesmo? 

Não se tratando apenas de uma estratégia, mas se referindo ao conjunto de estratégias e abordagens pedagógicas que levam os estudantes a experienciar de forma ativa os saberes, a aplicação das metodologias ativas de ensino têm sido incentivadas nas escolas e nos cursos de graduação da área de educação. É comum que no curso de pedagogia, a metodologia supracitada tenha seus fundamentos teóricos estudados e sua aplicação solicitada em trabalhos e projetos desenvolvidos pelos estudantes. No entanto, a mesma academia que cobra a execução destas abordagens pedagógicas pelos alunos e professores da educação básica, muitas vezes se limita a oferecer aulas tradicionais voltadas à transmissão dos saberes. 

Compreendendo a importância do professor em formação aprender estas metodologias vivenciando-as, enquanto estudante, para incorporação à prática docente, a faculdade Wlademir dos Santos tem implementado nos componentes curriculares diversas práticas que correspondem ao conceito de metodologias ativas. Desta forma, a cada aula, os professores em formação, além da oportunidade de assimilar os conceitos pretendidos, refletem sobre as metodologias utilizadas para ensiná-los e consideram inseri-las em sua prática pedagógica.

Dentre as abordagens ativas, nas aulas da WlaSan destacam-se as denominadas pela sigla PBL contemplando Problem Based Learning e Project Based Learning, cuja tradução corresponde respectivamente a Aprendizagem Baseada em Problemas e Aprendizagem Baseada em Projetos, há ainda a possibilidade de integração que é denominada por Monteferrante-Deliberali (2020) como Aprendizagem Baseada em Problemas e Projetos (ABP+). Um grande marco da vivência desta metodologia é a elaboração dos chamados Projetos Integradores. 

Para desenvolver um projeto integrador, a cada semestre os estudantes recebem uma temática e um gênero de escrita para elaborar em grupos um projeto que conecte os saberes das disciplinas do semestre. As temáticas dos projetos costumam estar associadas ao Programa de Escolas Associadas (PEA) da UNESCO e surgem para os estudantes como problemas a serem resolvidos, cujas soluções e respostas se materializarão em um projeto que é elaborado, vivenciado e depois registrado em um produto final.

As propostas são diversas, em alguns semestres os alunos produzem e aplicam planos de aula (observe a imagem 2) no colégio de aplicação, em outros elaboram projetos didáticos para escolas da região e escrevem artigos sobre a prática, entre outras muitas possibilidades, tanto para o processo de vivência, quanto para a elaboração do produto final.

Imagem 1 - Aplicação do plano de aula do Projeto Integrador do módulo Gestão da Sala de Aula

Fotografia de Lorena Bueno dos Santos.

Além da vivência do projeto semestre a semestre, na grade curricular do curso de Pedagogia da WlaSan há a disciplina Projetos Integradores, que estuda mais profundamente a criação e  consolidação de projetos integradores de maneira prática e teórica. A disciplina tem como um dos principais objetivos o estudo e prática da metodologia PBL, o professor em formação aprende sobre a metodologia vivenciando-a nas aulas, para ser capaz de aplicá-la aos seus alunos.

A aplicação da PBL não é o único investimento na área de metodologias ativas na formação dos graduandos. Já ouviu falar em Flipped Classroom? Como o próprio nome diz, nesta metodologia as aulas são invertidas em relação às atividades que acontecem em casa e durante a aula, isto acontece para que a sala de aula deixe de ser apenas um local de exposição e passe a compor um momento de estudo, discussão e resolução de exercícios. 

Há ainda como viver diversas experiências em uma única aula, na metodologia de Rotações por Estações. Quando três, quatro ou mais estações de atividades, com diferentes objetivos pedagógicos, são criadas para que os estudantes em grupo rotacionem pelas diferentes estações, no tempo predeterminado. Assim, ao fim do tempo todos os grupos terão vivenciado todas as estações. Enquanto os alunos se debruçam no objetivo de cada estação, o professor caminha pela sala, observa e interage. 


Imagem 2 - Rotação por estações em aula, período antes da pandemia da Covid-19

 Fotografia de Gabriela Deliberali

E nada melhor do que trabalhar em um bom time, não é mesmo? Considerando que a docência não é uma prática solitária, utiliza-se da metodologia Team Based Learning (aprendizagem baseada em times) com propostas que envolvem a partilha de ideias e definição de funções entre os integrantes do grupo.  Explora-se também o conceito de docência compartilhada na relação professor-assistente, desde a sala de aula da escola, até sala de aula da graduação em que as professoras que trabalham com as assistentes são convidadas para partilhas de reconhecimento e formação. Mesmo no período de ensino remoto esta e outras vivências não perderam espaço e importância, mas foram adaptadas para que pudessem acontecer, como demonstra a imagem 3.


Imagem 3 - Encontro remoto da disciplina Docência Compartilhada da Professora Maura Bolfer em que professores e assistentes refletem e reconhecem a importância da partilha entre si.

 Fotografia de Gabriela Deliberali

É importante dizer que as metodologias ativas não refutam outras abordagens e nem todos os conceitos podem ser trabalhados por meio delas, mas muitos conceitos, habilidades e competências podem ser amplamente desenvolvidos ao utilizá-las nas experiências formativas. Os futuros docentes da WlaSan levarão consigo o conhecimento e a prática das metodologias aqui apresentadas e outras tantas, e sobretudo a responsabilidade social do trabalho educacional que mantém a tribo viva e feliz no processo de ensino e aprendizagem.

Referências Bibliográficas:

 MARTINS, Viviane Lima. Didática na relação professor-aluno: tendências e atitudes. Revista Científica Intraciência, p. 1-12, 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. 

DEWEY, J. WESTBROOK, R. B. (org.). Coletânea de Textos – Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. 136 p.: il. – (Coleção Educadores).



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