Vivência poética na aula de Literatura infantil
As alunas do terceiro e do quarto semestres do curso
de pedagogia da WlaSan tiveram, na segunda-feira, 10/04, a última aula de
Literatura Infantil do bimestre. Para esse momento de reflexão e avaliação, a
professora Maura Bolfer, que também é a coordenadora geral do curso, propôs às
alunas uma vivência poética que costurasse alguns elementos discutidos nos
últimos dois meses: a autonomia feminina, a criação de um repertório de leitura
de obras infantis, a poesia co
mo gênero literário e a desconstrução de maneiras
fixas de lidar com questões do dia a dia — escolar ou não.
A vivência teve como base a atividade semanal de
Indicação de livros, em que as alunas sugerem títulos de literatura infantil
para serem trabalhados em sala de aula. Maura selecionou o poema “Ausência”, de
Drummond, trazido por uma das alunas por dialogar com o livro A moça tecelã, de Marina Colassanti, uma
frase de Paulo Leminski referida por outra estudante quando indicou o livro Escolhas que brilham, de Silvia Camossa,
e uma frase de autor desconhecido levantada pela própria professora (os três
textos seguem abaixo).
A partir disso, fora da sala de aula, as meninas foram
incentivadas, primeiro, a criar uma pintura para expressar os sentidos de
ausência para cada uma. Terminada a pintura, Maura pediu que cada uma
explicasse a sua produção para as outras alunas. Em roda, diversos significados
individuais de ausência foram expostos, acompanhados de intensa carga
emocional: vieram à tona a perda de pessoas queridas, a distância, planos,
amizade, maternidade, empatia, sonhos, futuro, passado e presente, numa catarse
em que as alunas vocalizaram emoções por vezes pouco acessadas.
Em seguida, depois de ler o conto “O rei e a omelete”,
de Walter Benjamin, as alunas criaram pequenas esculturas com massa de
brigadeiro e confeitos coloridos — esculturas essas que não podiam ser as
tradicionais bolinhas do doce! Depois, novamente em roda, elas puderam falar
sobre a sua criação, mas desta vez de maneira mais leve e descontraída.
Assim, com arte, poesia, riso, choro e sobremesa, as
meninas tiveram uma experiência bem diferente das aulas regulares, em que
exercitaram a criatividade para elaborar emoções e conteúdos trabalhados no
curso até aqui.
Ausência
Carlos
Drummond de Andrade
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje, não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
“Quando a cor acorda a alma, a pintura recorda a
poesia” (Paulo Leminski)
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